Joaquim Maria Machado de Assis - A Flor do Embiroçu

Joaquim Maria Machado de Assis - A Flor do Embiroçu

Quando a noturna sombra envolve a terra br E à paz convida o lavrador cansado, br À fresca brisa o seio delicado br A branca flor do embiroçu descerra. br br E das límpidas lágrimas que chora br A noite amiga, ela recolhe alguma; br A vida bebe na ligeira bruma, br Até que rompe no horizonte a aurora. br br Então, à luz nascente, a flor modesta, br Quando tudo o que vive alma recobra, br Languidamente as suas folhas dobra, br E busca o sono quando tudo é festa, br br Suave imagem da alma que suspira br E odeia a turba vã! da alma que sente br Agitar-se-lhe a asa impaciente br E a novos mundos transportar-se aspira! br br Também ela ama as horas silenciosas, br E quando a vida as lutas interrompe, br Ela da carne os duros elos rompe, br E entrega o seio às ilusões viçosas. br br É tudo seu, — tempo, fortuna, espaço, br E o céu azul e os seus milhões de estrelas; br Abrasada de amor, palpita ao vê-las, br E a todas cinge no ideial abraço. br br O rosto não encara indiferente, br Nem a traidora mão cândida aperta; br Das mentiras da vida se liberta br E entra no mundo que jamais não mente. br br Noite, melhor que o dia, quem não te ama? br Labor ingrato, agitação, fadiga, br Tudo faz esquecer tua asa amiga br Que a alma nos leva onde a ventura a chama. br br Ama-te a flor que desabrocha à hora br Em que o último olhar o sol lhe estende, br Vive, embala-se, orvalha-se, rescende, br E as folhas cerra quando rompe a aurora.


User: PoemHunter.com

Views: 14

Uploaded: 2014-11-10

Duration: 02:20

Your Page Title