Tive ama preta. Seu leite não tinha cor. Seus sorrisos, amores e carinhos tinham todas as cores e me alimentaram. Me fizeram pleno.br br Engano.br br Cresci e me fizeram saber que éramos todos de raças diferentes, separados pela cor, como se esta expressasse o caráter de cada um. Que os negros já nasceram malditos, pois nenhum profeta foi negro, nenhum filósofo também e que os negros ficaram reconhecidos por não ter consciência do que são e por só reclamar, como Luther King, Nelson Mandela, Abdias, Zumbi, Dandara... E se deixaram matar pelos brancos.br br De quem sabia, aprendi o que é alforria e banzo, cadeia e senzala; carne preta retalhada a chicote e a bala; funk e rap; periferia-respeito nenhum... E de como são feias as cores do preconceito e do racismo...br br De novo então senti o gosto de minha ama. Sorvi seu leite. Sonhei seu sorriso sem condições, sem raça, sem conceitos de amor e de carinho...br br E de que a luta pela liberdade dos negros jamais cessou.